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PROTESTO EM CANTEIROS DE OBRA DA USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE TENTAM FREAR DANOS AO RIO XINGU

Matéria originalmente publicada no jornal Diário do Pará em 16 de junho de 2012.
(Foto: Thiago Araújo)

"Pare Belo Monte". A frase era formada por cerca de 300 pessoas representando letras. À luz do nascer do sol sob as águas calmas do rio Xingu, os manifestantes lutavam para sangrar uma gigante. A partir de uma iniciativa indígena, com apoio de movimentos sociais, acadêmicos, estudantes e até da imprensa estrangeira, os manifestantes ocuparam ontem, por volta das cinco horas da manhã, uma das áreas conhecidas como “ensecadeiras”, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Contrários à política desenvolvimentista do governo federal, os manifestantes abriram com cerca de 50 picaretas, simbolicamente, uma passagem na barragem de terra que impedia o fluxo do rio, o primeiro passo para construção de um dos reservatórios que secaria uma grande parte do Xingu e inundaria uma vasta área habitada no entorno de Altamira.

Numa das ensecadeiras do sítio Belo Monte, cerca de 500 mudas de açaí foram plantadas, simbolizando a recuperação, prevista por lei, das áreas desmatadas pelo consórcio Norte Energia nas margens do rio. Em seguida, 200 cruzes brancas foram cravadas ao longo da ensecadeira, representando a morte do rio para ribeirinhos, pescadores, agricultores e indígenas do Xingu. Todos os protestos acontecem dentro da programação da Xingu + 23, evento que ocorre paralelamente à Rio + 20 e busca chamar atenção de autoridades mundiais para os problemas que a população nativa vem sofrendo desde o início da construção de Belo Monte, em meados do ano passado. Até ontem, nenhum conflito havia sido registrado entra a polícia ou a segurança privada do consórcio e o ato era pacífico.
“Nós não queremos nada demais. Nós queremos os nossos direitos: uma terra pra gente trabalhar sossegado, mais nada”, fala Edmilson Tembé, 53 anos, que veio de Santa Maria para apoiar os indígenas e a população atingida pela usina. Edmilson estava presente em Altamira, há 23 anos, quando o 1 º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu impediu o barramento do rio. Querem tirar os índios e colocar num lote de terra pequeno, perto da cidade, o índio não se habitua. Não tem caça, não tem pesca, nem espaço pra plantar, vai viver do quê?”, indaga.
O movimento contrário a Belo Monte parece ser consenso entre a população carente de Altamira, que alega que a cidade está inchando sem planejamento urbano e que os postos de trabalho estão sendo ocupados por pessoas de fora. Ainda ontem, uma marcha de estudantes foi às ruas da cidade protestar contra os impactos sociais e ambientais causados pela usina.

De acordo com o governo federal, Belo Monte é um projeto essencial para suprir futuros déficits de energia e eventuais apagões. Para Antônia Melo, uma das lideranças da ONG Xingu Vivo, Belo Monte é um problema nacional e diz respeito a todos. “O projeto é ditatorial é foi imposto sem nenhuma consulta popular. É um problema nacional”, afirma. Segundo Antônia, cerca de 40.000 famílias terão que ser remanejadas para a construção de Belo Monte. Além disso, segundo os manifestantes, a obra irá beneficiar apenas grandes mineradoras e empreiteiras.
A vila Santo Antônio, bem em frente ao canteiro de obras da usina, foi o palco inicial da Xingu + 23. Quem sabe, a vila tenha celebrado a última festa do Santo que dá nome à localidade, no último dia 13, antes de ser inundada pelos efeitos da usina. No cartaz do evento, a salvação das famílias afetadas pela barragem talvez representasse a força da esperança criada pela união dos manifestantes: “O santo das causas impossíveis contra o fato consumado”.

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Protesto em Belo Monte: Sobre mim
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